quarta-feira, 28 de abril de 2010

O peso que balança as carreiras do Imperador e do Fenômeno

Ídolos e artilheiros de Fla e Corinthians que duelam no 'ringue' do Maracanã nesta quarta pela Libertadores têm um inimigo em comum

No Flamengo x Corinthians desta quarta-feira que vai mexer com 60 milhões de torcedores apaixonados no duelo das "nações", seus dois maiores ídolos estão de volta à berlinda. Craques estelares e artilheiros com vida conturbada fora de campo, Adriano e Ronaldo começam, a partir das 21h50m, o confronto tão esperado desde 2009, quando retornaram ao Brasil na tentativa de darem um novo rumo às suas vidas, que já não andavam boas na Europa. No primeiro round que decide uma das vagas às quartas da Libertadores, os dois entram no "ringue" do Maracanã com um inimigo em comum há anos: a balança.
A vida desregrada contribui. Os dois não treinam como deveriam, são amantes da noite, do bom chope e do pecado capital da gula. O Imperador tem como combinação predileta arroz, feijão e ovo. O Fenômeno é viciado em batata frita e ainda tem o hipotireoidismo (doença que atinge a tireoide e provoca desquilíbrio no metabolismo) para piorar a situação. Os clubes evitam divulgar oficialmente os números dos jogadores e sequer confirmam que estejam acima do peso. Não falam também de percentual de gordura, para evitar mais polêmica. Mas o torcedor consegue perceber no campo ou na TV as gordurinhas a mais. Especula-se que hoje o atacante rubro-negro, 27 anos, 1,89m, esteja com 102kg. E o corintiano, 33 anos, 1,83m, com 97kg.

No Brasileirão de 2009, não houve o duelo dos pesos pesados. No primeiro turno, Ronaldo estava com a mão quebrada. No segundo, foi o contrário: Adriano ficou fora, com o pé queimado. As duas contusões só agravaram a briga acirrada com o adversário em comum. Curioso que os dois começaram esse combate na mesma época: a Copa do Mundo de 2006. Quando se reuniram em Weggis, para o início dos treinos, chegaram do Inter de Milão e do Real Madrid muito acima do peso.

'Duelo' já na Alemanha

Na ficha da CBF para o Mundial na Alemanha, Adriano media 1,89m e pesava 86kg. Bem distante da realidade com que desembarcou na Suíça para a fase de preparação: com 94kg, oito quilos acima do esperado. Antes, o atacante, que começou franzino nas categorias de base do Flamengo, só era lembrado pelos músculos desenvolvidos.

O ídolo corintiano apareceu em Weggis com quase 95kg - exatamente 94,7kg. À época, o preparador físico da seleção brasileira Moraci Sant’Anna disse que o ideal para ele era o peso de 90kg. Na Copa de 2002, por exemplo, o Fenômeno estava, segundo dados oficiais da CBF, com 81kg.

Os dois acabaram criticados na Copa pela falta de mobilidade, além das saídas à noite com outros jogadores. A seleção brasileira acabou eliminada, e cada um seguiu o seu rumo.

Depressão pesada do Imperador

Adriano já dava sinais de declínio na Itália. Os anos seguintes foram conturbados, com episódios de depressão e fugas ao Brasil para "recuperar a alegria". Foi quando o São Paulo o repatriou no primeiro semestre de 2008 para jogar a Libertadores e o Paulistão. O craque teria chegado ao Morumbi um pouco mais magro, com 92kg. Saiu de lá seis meses depois com alguns problemas - foi multado em 40% do salário por indisciplina - e sem título.

Mesmo assim, se reapresentou ao Inter de Milão, com José Mourinho no comando, com moral mais elevado. Até que os problemas com a bebida voltaram, a saudade do Brasil também. A combinação de noitadas, álcool e alimentação descontrolada voltou a atrapalhá-lo. O Imperador arrumou as malas e anunciou o fim da carreira até mudar de ideia e acertar com o Flamengo, em 2009. Na ocasião, estava no seu 'auge' de peso: 108kg.

Contusão e noite na balança


O excesso na balança também mudou o caminho do Fenômeno. As críticas ao peso o fizeram trocar Madri por Milão, mas agora no rival do Internazionale, seu ex-clube. Quando acertou com o Milan, em 2007, tratou-se da tireoide e perdeu cinco quilos, ficando com 89kg. Mais tarde, em fevereiro de 2008, a grave lesão no joelho esquerdo na partida contra o Livorno fez com que o atacante se submetesse a nova cirurgia e voltasse a engordar.

O Milan resolveu não renovar o contrato. Ronaldo voltou ao Brasil, se envolveu numa confusão com travestis no Rio e chegou a treinar no Flamengo em setembro, para recuperar a forma. Mas, ao contrário do que se pensava, não houve acerto com o clube rubro-negro. O Corinthians iniciou negociações e levou o craque. Em dezembro de 2008, quando acertou com o Timão, estava com pouco mais de 100kg.

Imperador: de Hulk à louca vida dos 106kg

Os dois craques voltaram com estrela. Curiosamente, cada um dominou um semestre do futebol brasileiro. Se no primeiro Ronaldo conduziu o Corinthians aos títulos Paulista e da Copa do Brasil - classificando a equipe a disputar a Libertadores no ano do seu centenário -, no segundo, Adriano foi o grande herói da conquista rubro-negra do hexacampeonato brasileiro e, consequentemente, da vaga para a disputa da competição sul-americana.

O Imperador, que havia chegado à Gávea com 108kg, disse na época que seu peso ideal era de 98kg e atingiu a meta já no segundo semestre. Na campanha do Brasileiro, em que foi artilheiro da competição com 19 gols - o que o levou a voltar à seleção brasileira -, usou a comemoração à la Hulk, em que tira a camisa e contrai os músculos, marca registrada nos momentos de plena forma física.

- Ele é diferenciado, o jogador mais forte com quem trabalhei. Tem enorme facilidade para a hipertrofia muscular e para perder peso - costuma dizer o preparador físico do Flamengo, Alexandre Sanz.

Mas depois, o atacante voltou a se entregar à vida louca. Ainda por cima, uma queimadura no pé que lhe rendeu uma bolha no fim de novembro atrapalhou sua forma física na reta final do Brasileiro. Com isso, terminou 2009 pouco acima dos 100kg. Neste ano, com problemas pessoais - como o episódio da Favela da Chatuba -, e se rendendo ao pecado da gula, ainda não se aproximou do peso ideal (atualmente de 99kg). Também com problemas físicos - queixou-se de dores lombares -, chegou a 106kg em março e jogou a final da Taça Rio com 103kg. Agora, está com 102kg e correndo o risco de não ir à Copa.

Fenômeno: voo a 95kg, estacionado perto dos 100kg
Com o Fenômeno, o início no Corinthians não foi diferente do de Adriano no Fla. Logo na pré-temporada, em Itu, o atacante se dedicou bastante aos treinamentos e atingiu 98kg em duas semanas. No auge, na final da Copa do Brasil, no começo de julho de 2009, Ronaldo chegou a 95kg, o mínimo até agora na equipe do Parque São Jorge. Não deu outra: o Timão conquistou a competição e, um pouco antes, o Campeonato Paulista. Ronaldo foi decisivo. Especialmente na segunda partida da semifinal do Paulistão, contra o São Paulo, e na primeira da decisão contra o Santos, marcando um gol de placa.

Até o presidente Lula, corintiano roxo que já teve problemas com Ronaldo por causa de uma declaração em 2006 sobre o peso do jogador, entrou na campanha por uma volta do jogador à seleção. Mas, no dia 26 de julho, o Fenômeno sofreu uma fratura em um osso da mão esquerda, ficando fora do Brasileirão por dez partidas. Aproveitou e fez uma lipoaspiração, mas não resolveu muito.

Quando voltou, o camisa 9 estava visivelmente acima do peso. E nunca mais conseguiu recuperar a forma da Copa do Brasil. No início deste ano, admitiu ter traumas de se pesar na balança (assista ao vídeo). Especula-se que atualmente ele esteja novamente perto dos 100 quilos, com 97. E também mais longe do Mundial na África do Sul. Mas o amigo e companheiro de time, o lateral Roberto Carlos, avisa: o Fenômeno vai com tudo para cima do Flamengo.

- Nesse período que o Ronaldo ficou treinando mais que todo mundo, ele deu uma afinadinha no rosto, deu uma segurada na comida e voltou a se cuidar. Todo mundo sabe que o mínimo que ele come o engorda. Agora é só acertar a pontaria. Ele bem é o melhor do mundo. Estou vendo o Ronaldo bastante concentrado e ligado para essa partida – declarou o lateral na segunda-feira.

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