segunda-feira, 5 de abril de 2010

Contra a baixa média de público, Zico diz: 'O Campeonato Carioca está inchado'


Para o maior ídolo do Flamengo, atual tricampeão, Estadual do Rio de Janeiro deveria ser reformulado e ter, no máximo, dez clubes

Há quem diga que o Campeonato Carioca começa, de fato, no próximo fim de semana, com as semifinais da Taça Rio entre Fluminense, Botafogo, Flamengo e Vasco, os quatro grandes. A baixa média de público nos estádios do Rio de Janeiro reflete a disparidade entre os clubes considerados grandes e os pequenos, além de ser um indício de que o Estadual necessita de uma reformulação. Para Zico, um dos maiores jogadores do futebol brasileiro e maior ídolo da história do Flamengo, o atual tricampeão, o Carioca está inchado:

- Lamentamos em ver o torcedor carioca sem a motivação de participar do campeonato, sem ir aos estádios. Vimos no ano passado as torcidas dando a sua contribuição no Brasileirão, seja na Primeira, Segunda Divisão. Torcedores do Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense. Não pode ter um clube, por exemplo, como o Flamengo, jogar onze jogos deficitários. Acho que dez clubes é um número limite. Ou então fazer um campeonato onde os quatro grandes entrem depois, em uma reta final – afirmou o Galinho, em entrevista à Rádio Brasil.

Segundo Zico, os clubes considerados pequenos não conseguiram desenvolver seus respectivos elencos:

- Os pequenos se tornaram presa fácil para os grandes. Os grandes passaram a ter mais seriedade na preparação. Este ano, exceto dois tropeços do Vasco, era difícil prever outro resultado que não fosse vitória dos grandes, até mesmo empate. Acho que a Federação tem que rever o campeonato, para evitar esse desinteresse do torcedor – completou.

Reaproximação com o Flamengo:

- Se deu com meu filho Bruno (meu filho), que vinha tendo uma ótima relação com o Delair Dumbrosck e com o Marcos Braz.. O Márcio Braga queria a incorporação de todo o patrimônio do CFZ para o Flamengo, mas sempre achei muito difícil. A questão da parceria foi outra coisa, o que eu sempre achei mais viável. O Marcos Braz continuou e deu sequência junto com o Bruno. A Patrícia Amorim encampou, entendeu bem a finalidade do projeto. Sempre trabalhamos para o Flamengo, as portas do CFZ sempre estiveram abertas para o clube. O relacionamento sempre foi excelente. Estou trabalhando, sou treinador de futebol. Estava lá fora, mas jamais deixei de lado as coisas ligadas ao Flamengo. Temos um menino que foi uma revelação da Copa São Paulo já integrado ao Flamengo, que é o Carlyle. Alguns meninos do Fla já estão lá no CFZ, vão nos ajudar no Campeonato da Segunda Divisão.


Ex-companheiros na carreira:

- Sempre procurei dar oportunidade aos meus companheiros que quiseram seguir em frente (Andrade, Adílio, Cantarele, Reinaldo, Julio César...). Acho que isso é importante. Mesmo sem a parceria (CFZ x Fla), nós já estaríamos trabalhando com o Flamengo. Sempre procuro dar chance as pessoas que querem trabalhar, querem seguir a carreira.

Convite para chefiar a delegação do Fla contra o Universidad de Católica:

- Ela (Patrícia Amorim) convidou, mas não pude aceitar. Tenho compromissos, como o lançamento do DVD. O jogo é dia 14 (em Santiago, pela Taça Libertadores da América), o lançamento é dia 12 e 13, no Sesc e no Museu do Futebol, em São Paulo. Teremos lançamento no Rio de Janeiro também, dia 19, na Livraria da Travessa. Não acho correto a delegação viajar um dia antes e o chefe depois. O Flamengo vai passar para a próxima fase, e, se Deus quiser, eu me preparo para uma nova oportunidade destas.

Copa de 1986 e outros Mundiais:

“As Copas do Mundo, de minha parte, nunca foram boas."

- Me arrependo de não ter escutado meu coração para não ter ido para a Copa. O Homem lá de cima chegou até me mandar um aviso quando o Mozer teve um problema, lá no México. Tive uma reunião, cheguei a pedir para ser cortado, tentaram me convencer de ir à Copa, me esforçar. Sabia que teria que ter operado (joelho). Um dia antes de eu sentir, o Mozer também sentiu e foi para o Estados Unidos para operar. Pedi para ir com ele, acabei não indo. O Telê (Santana) percebeu que eu não podia jogar de início. Isso tudo acarretou polêmica. Aquele pênalti contra a França também não ter entrado. Tive um gol anulado no último minuto, sem qualquer explicação, com a bola no alto. Estrear numa Copa, com gol da vitória. Primeiro jogos de Copa são sempre difíceis, disputados, sempre 1 a 0. É normal, todos muito tensos. Como coordenador, o fato do problema do Ronaldo, no dia da decisão (contra a Franca, em 1998). Depois fui para a Copa (2006) com o Japão, nós estávamos ganhando bem na estreia, em oito minutos pusemos tudo a perder. Não tenho nada do que reclamar e acho que dei minha contribuição. Fui um dos artilheiros da seleção em todos os tempos. Conquistei quase tudo o que um profissional pode conquistar. Tenho que agradecer a Deus de estar feliz comigo mesmo e em paz com a minha consciência.

Kaká:

- É normal que haja uma pressão em cima dele, até pelo estágio e status que ele atingiu. Os grande jogadores têm que estar acostumados e saber que, quando você atinge um certo nível, a pressão vai vir. Tomara que ele consiga reunir todas as condições físicas ideais e favoráveis para render na Copa do Mundo.

Dunga:

“O Dunga de bobo não tem nada. Ele não vai fazer teste. Se ele der a oportunidade para gente que nunca jogou com ele, é porque ele acha que vai dar resultado. "

- Os resultados demonstram que ele teve um belo comportamento em todo esse tempo. O treinador tem mesmo é que ir com as suas convicções, pois depois, se perder, vem tudo em cima dele. É melhor morrer com a suas convicções do que com as dos outros. A seleção brasileira, como perdeu em 2006, quem assumisse poderia fazer o que quisesse, e foi o que ele fez. Mudou e deu chance a muita gente. Muitos que começaram hoje não estão nesse grupo. O Luis Fabiano foi um dos últimos a ser testados. Ele entrou, abraçou a vaga e não saiu mais. Teve o Sobis, Afonso, o Love, o Fred, que se machucou. O Pato. Ronaldinho a gente não conta, porque vem desde 2002. É um jogador que já se sabe, se conhece. Alguns tiveram problemas, outros não, outros não foram bem. Acho que a base está pronta, porque ganhou a Copa das Confederações e a Copa América. Eliminatórias não conta muito, porque a seleção brasileira sempre vai chegar. A gente que começa um trabalho vai obtendo resultado, é preciso ter discernimento, equilíbrio, ver o que pode refletir em benefício ou não da equipe. Não existe grupo fechado. Se o treinador achar que vai ganhar com um jogador, ele vai chamar.


Treinamento e desgaste dos jogadores:

- Acho que o desgaste é o mesmo, a pressão psicológica é a mesma. Hoje há uma preocupação muito grande em relação a tudo o que envolve o futebol. Muitos acham que o desgaste é muito grande. Esta questão de poupar, quando dirijo meus times, vejo a condição de cada um, pois hoje a tecnologia te dá essa possibilidade. Na minha época de jogador era no ‘olhometro’. Lembro da época do ‘pijama training’ – tem que dormir, e era para dormir mesmo. Hoje você tem mil formas de recuperação de atleta. É muito mais fácil hoje de se trabalhar. O que é preferível: ir para praia treinar ou jogar dois dias depois? Eu prefiro jogar.

Qual é o time que vem apresentando o melhor futebol hoje no Brasil?

“Hoje, para jogar contra o Santos, tem que marcar na saída de bola, obrigar o goleiro a dar um chutão e tentar ganhar o rebote no alto. Se deixar jogar, acho que é pior, pois você passa 45 minutos pegando cinco vezes na bola"

- Acho que o grande mérito do treinador é saber aproveitar as características de cada jogador. O Dorival Júnior soube fazer isso no Santos, e o time está se desenvolvendo individualmente e tecnicamente. Claro que é bom avaliar em um campeonato de maior equilíbrio, como o Brasileiro. Ontem estava assistindo ao jogo contra o São Caetano, até os 35 minutos, o São Caetano não havia chutado a gol. São jogadores de qualidade, que valorizam a posse de bola. Era mais ou menos isso que tinha o nosso time na época. Está dando prazer ver o Santos jogar. Existem também outras equipes que podem aproveitar muito bem o material humano que possuem.

Técnico refém ou sendo inteligente ao dar folga para jogador?

- Isso vem de encontro a um processo de calendário. Não seria este jogo contra o Friburguense, por exemplo, que daria mais conjunto para esta partida desta quarta-feira. Na Rússia, por exemplo, eu dava um dia de folga. Exemplo: jogava no domingo, dava na segunda-feira, e o meu vice-presidente mandava dar dois dias de folga, porque era de costume. Ontem foi um dia especial, esse pedido de folga. Domingo de Páscoa nunca teve jogo na Itália, na Grécia também. Por ser Domingo de Páscoa os jogadores pediram essa folga. Tem que avaliar, acho que não vai fazer diferença. Num time que está jogando desde janeiro constantemente, acho que um dia de folga a mais não vai fazer diferença. Completando, se não fosse Domingo de Páscoa, acharia errado dar folga, assim como Semana Santa, na sexta-feira.

Zico é maior que o Fla, ou o Fla é maior que Zico?

- A gente é uma engrenagem. O clube é maior que todos. Eu ajudei ao clube, participei nas maiores conquistas do clube. Dei uma contribuição muito grande para que o Flamengo fosse maior do que ele já é.

A dupla Adriano/Love chega perto de Zico/Nunes?

- Tomara que chegue e supere, quem ganha é o Flamengo.

GLOBOESPORTE.COM Rio de Janeiro

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